
Acessibilidade em periódicos para pessoas com deficiência visual
Imagem: Abel Passos, Técnico administrativo do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da UFMG.
De acordo com a Lei de acesso à informação e comunicação, é preciso estimular a adaptação de artigos científicos e outros textos acadêmicos para um formato que possa ser utilizado por leitor digital ou mesmo que possa ser lido por uma pessoa com baixa visão. Existem formas de tornar um texto acessível e que dependem apenas da atitude do editor em relação à adaptação do trabalho, confira algumas dicas:
Uso das fontes Arial ou Tahoma ou Verdana; Espaçamento entre linhas de 1,5; Contraste entre cores em títulos ou nos destaques do texto; Se possível evitar o uso de fonte Times New Roman, e da ferramenta Itálico; Manter o texto com apenas uma coluna por página e evitar margens estreitas.
No evento Ciclo de Debates Periódicos da UFSC, que ocorreu entre os dias 2 e 4 de maio, o tema “Acessibilidade para pessoas com deficiência visual” foi parte de uma das palestras do encontro. Ministrada pelos especialistas Clarissa Agostini Pereira (UFSC), Salete Cecília de Souza (Unisul) e José Carlos Rodrigues (CEJA/Florianópolis), a palestra debateu a inclusão social na produção científica. Foi orientado aos periódicos científicos o desenvolvimento de ferramentas de inclusão para tornar o seu conteúdo acessível a pessoas com deficiência visual.
Leia Mais em: I Encontro Nacional de Portal de Periódicos
Para aprofundar o conhecimento sobre a acessibilidade, existem também diretrizes para que websites estejam acessíveis para uso comum de pessoas com deficiência e que podem ser aplicáveis aos periódicos científicos. As Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG) têm o objetivo de auxiliar a tornar o conteúdo disponível na Web mais acessível. A descrição de conteúdo não-visual é um exemplo: logo após uma imagem é recomendado que haja um parágrafo descrevendo o que está sendo informado na imagem, assim como o recurso de ampliador de imagens.
Para conhecer mais sobre essas diretrizes, acesse: Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG) 2.0
O texto adaptado para uma pessoa com baixa visão pode ser lido por qualquer pessoa que não possua deficiência, já o texto que não está adaptado é restrito. Assim, adaptações e ferramentas que tornem acessível a leitura de um Periódico é uma ótima prática para que seu conteúdo esteja ao alcance de todos.
Para melhor compreender o cenário atual da acessibilidade no ambiente acadêmico, convidamos o técnico administrativo Abel Passos, do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da UFMG, para falar a respeito de suas perspectivas sobre Inclusão de pessoas com deficiência na produção científica. O servidor também ressalta o uso de algumas ferramentas importantes para o acesso à informação por pessoas com deficiência visual.
Como a pessoa com deficiência visual consome conteúdos dos periódicos?
Através de softwares específicos chamados leitores de telas. Porém, é preciso atentar para um requisito básico destes leitores, que é o conteúdo estar em formato de texto, não em formato de imagem como ocorre com os arquivos que são digitalizados. O leitor de tela é basicamente a passagem do texto escrito para uma versão em áudio, realizando uma leitura deste conteúdo. No Núcleo de Acessibilidade e Inclusão trabalhamos também com o programa OCR -Optical Character Recognition, que faz esse reconhecimento óptico de caracteres. Isso significa que mesmo que você tenha um texto dentro de uma imagem, este software consegue extrair este texto. Por exemplo, quando um aluno precisa ler um livro que não possui versão digital, digitalizamos as páginas no scanner, usamos o OCR e entregamos ao aluno uma versão digital que pode ser captada pelo leitor de tela. Este método é interessante, pois pode ser usado por periódicos antigos, por exemplo, que não possuem seus textos publicados na versão digital, e que precisam da digitalização de seus conteúdos.
O que pode ser feito para tornar o conteúdo mais acessível para pessoas com deficiência visual?
Para pessoas com baixa visão, as principais dificuldades são com o tamanho da fonte e a cor do texto. Elas podem usar softwares e programas de ampliação de texto, que facilitam em muito a leitura de conteúdo. Uma dica é o comando CTRL + rolagem do mouse que possibilita ampliar e reduzir o tamanho do que está escrito na tela. Outro comando utilizado para auxiliar a leitura é SHIFT+ALT+PRINT SCREEN que coloca a tela do computador em auto contraste.
Para pessoas com uma deficiência visual mais severa, uma medida importante a ser feita é deixar o conteúdo em formato de texto. Por mais que o programa OCR extraia o texto de uma imagem, isso não garante que haja uma boa identificação do que está escrito, porque isso depende da resolução da foto. Ao fazer a extração do texto, é preciso ter uma resolução mínima de 300 dpi – que são “pontos por polegada”. Entretanto, quanto maior ‘dpi’ de uma digitalização, maior o volume do arquivo. Geralmente, quem faz a digitalização de um documento para PDF ou imagem não se preocupa com este tipo de coisa, por isso é comum o uso de uma resolução de 150 dpi por ser mais leve. Só que isso diminui a qualidade do documento e consequentemente dificulta a leitura dos softwares. Às vezes a qualidade é tão ruim que até quem enxerga bem tem dificuldade.
Também é importante uma legenda descritiva das imagens, como “foto de uma homem, sentado em uma cadeira, à beira mar, no fim de tarde”. É uma descrição básica e objetiva, sem necessidade de detalhes, mas que permite uma boa visualização da imagem. Em um texto é comum imagens com legenda apenas como “Foto 1”, dessa forma, fica impossível para que a pessoa com deficiência visual saiba o que está sendo retratado.
Pensando na inserção de cotas para pessoas com deficiência no último vestibular, é possível dizer que já há alguma mudança a partir desse movimento em prol da acessibilidade dentro das Universidades e consequentemente na produção científica? Na prática, você vê essa abertura com clareza na Universidade ou ainda é um processo lento?
Toda mudança cultural é um processo longo. Se falarmos que não existe nenhum tipo de preconceito, nenhuma visão limitadora por parte de toda comunidade em relação às pessoas com deficiência estaremos mentindo. Existem dois extremos. É muito fácil interpretar a pessoa com deficiência como uma pessoa incapaz e às vezes você desqualifica o potencial da pessoa, por exemplo quando não permite que ela faça aquilo que tem capacidade de fazer, faz coisas por ela por achar que ela não vai dar conta, e isso não deixa de ser uma forma de discriminação velada. A outra forma é algum aluno ser desqualificado na produção dele ou ter algum impedimento para realizar a produção dele em função de um viés realmente discriminatório. Às vezes são coisas muito sutis, coisas que não são declaradamente discriminatórias mas que você percebe que está criando barreiras.
Nós pensamos em quatro categorias de barreiras: as barreiras arquitetônicas, as barreiras comunicacionais, as barreiras pedagógicas – de ensino e aprendizagem – e as barreiras atitudinais, que se referem às atitudes em relação às pessoas com deficiência. Dessas quatro barreiras, na minha opinião, a principal é a atitudinal. Dela irá decorrer todas as outras: uma pessoa com dificuldade no acesso a um prédio ou de sentar numa carteira da sala de aula, necessita de um apoio externo, então promover o acesso daquela pessoa aos espaços, por exemplo, passa pela atitude de quem não tem deficiência em perceber a dificuldade de uma pessoa com deficiência e projetar as coisas pensando nela.
O que você acha que é preciso mudar para que todos os indivíduos tenham acesso ao conteúdo produzido pelas Universidades, como os periódicos científicos?
Apesar de não estar adaptada, a Universidade agora não tem escolha senão melhorar seu espaço para receber estes alunos. “o desejo nasce da falta”, quem sabe a falta de acessibilidade da UFMG provoque o desejo de que a Instituição faça alguma coisa sobre. De acordo com a Lei 13146, que é a Lei Brasileira de inclusão, em seu primeiro Artigo que fala: “São consideradas pessoas com deficiência aquelas que possuem limitações de longo prazo e cujas barreiras arquitetônicas, comunicacionais e etc, impedem a participação da pessoa na sociedade”, foi muito interessante essa relação porque antigamente colocavam a responsabilidade na própria pessoa ‘se ele está indo mal é porque ele não dá conta’, pronto acabou, simples assim, agora com essa Lei não, ou seja se a pessoa é considerada deficiente, é porque existem barreiras ambientais que provocam a dificuldade dela. Se criarem recursos para que as pessoas com deficiência tenham totais condições de exercer a cidadania como qualquer outra pessoa, eles serão cidadãos úteis como qualquer pessoa. Isso significa dar acesso à informação e condições de deslocamento, dentre outras coisas, em que a pessoa com deficiência possa encontrar dificuldades.