
Ouro de Minas: Rafaela Ferreira
Fonte da Imagem: L’Oréal Divulgação
Acessibilidade: Rafaela Ferreira no corredor de uma biblioteca .
Neste domingo, dia 8 de Julho, foi comemorado o Dia Nacional da Ciência e o Dia Nacional do Pesquisador Científico. Aproveitando essa data, estamos lançando uma série de matérias especiais chamadas Ouro de Minas, em que iremos trazer pesquisadores que atuam em Minas Gerais e estão se destacando na cena nacional e internacional.
Nossa primeira convidada é Rafaela Ferreira, nascida e criada em Minas Gerais, que iniciou sua trajetória na pesquisa aos 15 anos, ainda no ensino médio. Formada em Farmácia pela UFMG e doutora pela Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos, hoje Rafaela é professora da UFMG. No dia 21 de Março deste ano, ela recebeu o prêmio International Rising Talents, organizado pela Unesco e pela L’Oréal, que reconhece a participação de mulheres na ciência. E é justamente por se destacar em sua área de pesquisa que ela é Ouro de Minas.
O estímulo para trabalhar com pesquisa começou desde cedo, quando cursava o Ensino Médio no Colégio Técnico da UFMG (COLTEC) e surgiu a oportunidade de atuar no Instituto René Rachou – Fiocruz Minas, como orientanda em um projeto de Iniciação Científica. “Nunca tive nenhuma influência na família, eu já gostava de biologia na escola e a oportunidade da bolsa de iniciação científica pareceu uma oportunidade atraente para conhecer a área de pesquisa.”
Sobre o seu desenvolvimento na área acadêmica, a pesquisadora revela como foi a sua construção profissional: “Aproveitei as oportunidades que surgiram, por exemplo quando pude realizar um intercâmbio numa universidade dos EUA, no meio da minha graduação. Aquilo mudou minha opinião quanto ao meu objetivo profissional que se tornou realizar um doutorado fora do país e seguir a carreira de pesquisadora.”
Ao fazer o doutorado nos Estados Unidos, Rafaela Ferreira pode ver as diferenças entre a estrutura do Brasil e de outros países. Para ela, é preciso ainda muito investimento em ciência para chegar no mesmo nível de eficiência e desenvolvimento de pesquisas observado em outros lugares: “Aqui, a infraestrutura não é a ideal, é difícil conseguir financiamento, e quando conseguimos o valor é muito baixo. Dessa forma, é muito difícil competir com a pesquisa realizada em países desenvolvidos. Eu gostaria de ver esta defasagem diminuindo”.
Para melhorar este cenário, ela acredita ser necessário investir para que crianças e jovens, desde a educação básica, tenham acesso e conhecimento do que é uma carreira científica. Além disso é importante que a população reconheça como o desenvolvimento de estudos e projetos nesse sentido são relevantes para o país e os apoie: “Acredito que este é um caminho para termos mais apoio do governo, o que permite que a ciência seja feita. Se não for percebido pela sociedade como é importante pesquisar, fica mais difícil conseguir apoio financeiro. Além disso, quanto mais cedo a população for exposta à ciência, maior será nosso potencial para gerar bons cientistas.”
Rafaela Ferreira trabalha, atualmente, com tratamentos mais eficazes para a doença de Chagas e com pesquisa sobre o Zika Vírus, doenças classificadas pela OMS como “doenças tropicais negligenciadas”. Doenças negligenciadas são aquelas que afetam principalmente populações de baixa renda e recebem investimentos reduzidos em pesquisas e produção de medicamento. A principal motivação científica de Rafaela é poder desenvolver novos fármacos e otimizar este processo, mas existe também uma motivação pessoal. Ela explica que o fato de trabalhar especificamente com as doenças negligenciadas, vem da importância dessa área, que ainda é muito carente de pesquisa e atenção.
O método computacional que ela usa em sua pesquisa é reconhecido internacionalmente por ser inovador e moderno. A razão de usar este método é a possibilidade de agilidade, eficiência e baixo custo que ele oferece: “É um método alternativo para os outros já utilizados, por ser mais barato e eficiente. É uma alternativa muito interessante, pois tanto no aspecto prático, quanto econômico, viabiliza descobertas de novas classes de moléculas, por laboratórios como o meu.”
A pesquisadora afirma ter consciência de que é um exemplo de representatividade: “Eu percebo que a partir do momento em que minha pesquisa é colocada em destaque e que recebo prêmios, existe o efeito de estimular outras mulheres.”
Rafaela Ferreira deixa um recado para as mulheres que querem seguir uma carreira na ciência, ou que estejam enfrentando problemas profissionais por conta da discriminação de gênero: “Algumas barreiras podem surgir, mas acho que não podemos desistir por causa disso. É muito gratificante quando a gente consegue realizar nosso sonho, atingir nossos objetivos. Então não desanimem com dificuldades, continuem tentando!”