
Revistas discentes: oportunidade de aprendizado e crescimento
Imagem: Equipe editorial da Revista Três Pontos, formada por discentes de cursos de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais.
Periódicos científicos são publicações eletrônicas ou impressas que publicam, prioritariamente, artigos originais resultados de pesquisas científica. Dentro do universo dos periódicos, temos as revistas discentes que são publicações dirigidas por alunos. A participação dos discentes na edição de revistas científicas proporciona crescimento acadêmico, além de ser um veículo para registrar ideias e promover debates.
O Portal Periódicos de Minas conta com algumas revistas feitas por discentes. Conversamos com Maurício Sousa Matos, graduando de Ciências Sociais pela UFMG e editor executivo da Revista Três Pontos, para descobrir mais sobre os ganhos e dificuldades que esses periódicos podem enfrentar. Na conversa, Maurício contou como conheceu a revista, como é ser discente e editor desse projeto e quais as principais vantagens que esse trabalho traz para a carreira acadêmica dos alunos.
A Três Pontos foi criada em 2004, e sua licenciatura iniciou-se em 2013. Você já conhecia a revista ou teve o primeiro contato com ela na faculdade?
Eu já conhecia a revista porque pesquisei sobre o curso e quando entrava no site do CACS, que é o centro acadêmico do curso, já tinha acesso a ela. Eu me envolvi com a Três Pontos pela proposta da revista e as pessoas que participavam eram interessantes, assim, me aproximei delas e do periódico.
Quando entrou na revista, já entrou como editor ou isso foi um processo gradual?
Esse é um processo gradual, você entra como uma espécie de membro, o que a gente chama de colaborador. E a partir de pelo menos 6 meses essa pessoa passa a fazer parte do conselho de fato, e assim, ela pode galgar o cargo de editor. Com o passar do tempo, os mais velhos vão saindo, então quem está há mais tempo acaba virando o editor. Nós tínhamos uma regra de que todos os membros da revista deveriam ser editores, para que isso fosse interessante para vivência acadêmica ou para o currículo deles. Hoje isso vale para quem fica por um maior tempo, acima de dois ou três anos talvez. Eu mesmo estou na revista há quase 4 anos.
Você acha que é um diferencial da revista ter um discente como editor chefe?
Eu acredito que sim. Presamos por artigos de qualidade, mas somos um espaço de publicação prioritária de artigos de graduandos ou de recém graduados. Nas revistas docentes esse espaço para publicação é quase nulo, então nós somos a resistência. Nós fomos convidados para participar dos últimos dois congressos da SBS (Sociedade Brasileira de Sociologia) e acho que isso é uma forma de reconhecimento. Estávamos ao lado de revistas antigas, como a Dados, uma das revistas mais antigas de ciência sociais no Brasil, com 50 anos, e nós só temos 14. Somos um espaço que converge a produção de discentes, então é bem plural a recepção de trabalhos: recebemos trabalho das três áreas das ciências sociais e de outras, como psicologia e história.
Você acredita que estar nos Três Pontos influenciou em algo no seu processo de formação acadêmica?
Com certeza. O olhar para as questões sociais, no meu caso, mudou muito, até pelo contato e acesso as leituras que nós temos. Para você avaliar os trabalhos você precisa ter um referencial, então precisamos acumular algumas coisas. E isso é bom, você aprende mais, dialoga mais com os professores, aprende a burocracia da universidade. É um aprendizado infinito.
O que faz com que as pessoas queiram estar nela e perpetua-la?
Primeiro, por ser um espaço de produção e divulgação acadêmica, então é um espaço no qual os estudantes de graduação veem que é possível produzir um trabalho, e tê-lo publicado e disseminado. E também por expressar a pluralidade das ciências socais. Então acho que isso atrai as pessoas, e é permanente, ela está sempre funcionando, tem eventos, estamos abertos ao público de modo geral, e isso mostra a potência dela. Somos uma revista voluntária, e dentro de 14 anos ela não deixou de existir, e já passamos por muita coisa.
Como você acha que participar de um processo como esse que vive na revista pode ajudar no seu futuro profissional?
Recentemente fizemos um levantamento sobre onde os antigos membros da revista estão, ainda não é público, mas observamos que mais de 90 por cento dos ex- colaboradores da revista estão no doutorado, fazendo mestrado ou são professores universitários. Chegamos à conclusão de que poucos não fizeram pôs graduação. No meu caso, quero ser professor da educação básica, e pretendo ser professor e pesquisadora. A Três Pontos me mostra os horizontes de onde eu posso chegar. Acho que esse é um espaço para a produção de aprendizado, e a gente passa a olhar o mundo de uma forma diferente, e isso pode contribuir para um aluno de inúmeras formas.